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Lisboa, 30 de Junho de 1985. Um grupo de enraivecidos defensores da moral e dos bons costumes tenta impedir que a Cinemateca exiba a fita "Eu vos saúdo Maria" [Je Vous Salue, Marie], integrado num ciclo dos trabalhos de Jean-Luc Godard. Para tornar a situação mais grave, a turba era encabeçada pelo então Presidente da Câmara de Lisboa, Nuno Kruz Abecassis, católico militante. Apesar da confusão e dos protestos, com polícia metida ao barulho e tudo, o filme foi exibido com quase uma hora de atraso e o Apocalipse não começou. Como habitual nos filmes ou obras que ficam sobre fogo cruzado da Igreja católica e seus membros mais fanáticos, esta acção - e outros protestos - só serviram como publicidade gratuita. No festival de Cannes um homem atirou uma tarte com creme de barbear à cara do realizador, o Papa João Paulo II afirmou que a película "fere profundamente os sentimentos dos crentes". Acho que o Papa nunca ouviu falar que só entra no cinema quem quer. E o filme foi proibido em vários países católicos que nunca ouviram falar de algo chamado "separação entre Igreja e Estado". Quem eu estou a querer enganar? Ainda quase 30 anos depois assistimos periodicamente a tentativas de atropelos - mais ou menos veladas - à liberdade de expressão por parte de representantes de um largo espectro religioso! Mas voltando ao filme em causa:

O filme transpõe a narrativa da mitologia de Maria, José e Jesus para o mundo contemporâneo, o que automaticamente causou polémica, ainda para mais com direito a nus frontais da jovem Maria. Para alguns poético, para outros blasfemo; vi o filme há muitos anos, talvez na RTP2, talvez na TV espanhola, e sinceramente não me recordo de grande coisa.
Não foi a primeira nem a última tentativa de moralistas com saudades dos bons velhos tempos da censura cultural. Deste episódio não tenho memória directas (tinha apenas 6 anos de idade) mas ao ouvir ontem a "Caderneta de Cromos" dedicada a este acontecimento achei interessante referi-lo aqui. 

Veja o noticiário do dia seguinte:[começa no minuto 1:47


Trailer de "Je Vous Salue, Marie" (1985) 



Na Wikipedia [em inglês]: "Je vous salue, Marie"

5 comentários até agora:.

  1. Sinceramente, achei o filme uma porcaria. Só o vi uma vez, talvez volte a ele um dia.

    Roberto Simões
    CINEROAD.net

  2. Como mencionei acima, vi há muitos anos, apenas pelas cenas polémicas, lembro-me muito pouco. Em cinema, como em tudo, o luxo de uns é o lixo de outros :)

  3. Mitologia é medusa, zeus, etc... Aqui estamos falando de uma história de vida, que existiu de fato e que embasa a fé de milhões de pessoas em todo o mundo. Acho que não só o filme, mas também sua análise, deveriam ponderar essas realidades. Moralismo é uma coisa, fé é outra completamente diferente. Moralismo não é direito nem garantia do Estado, mas respeito a credos e religiões, sim, é direito constitucionalmente assegurado. O Estado é laico, amigo, mas respeito a fé é direito de primeira ordem.

  4. Cara Camila, obrigado pela visita.
    Concordamos então a discordar. Não vejo esta mitologia de modo diferente das outras. E sempre defendi e defendo que respeitar a fé de algúem não deve implicar submissão ou auto-censura. Ninguém nem nada deve estar acima da crítica ou questionamento. Tolerância é necessária!

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